«Sou pouco dado a sortilégios, magias ou
esoterismos: acho que é com os pés na terra que melhor se compreende o mundo.
Daí a curiosidade de, repentinamente, ficar a matutar no número sete (o das
vacas gordas e magras do sonho de Moisés; o dos dias da semana; o dos pecados
mortais; o dos gnómicos sábios gregos; o mesmo número dos que eram contra Tebas
na tragédia de Ésquilo…). Mas há uma explicação: é que – certamente sem o
dramatismo histórico de outros setes atrás arrolados -, este é o sétimo livro
de Henrique Mota! Sete livros de um falar e de uma comovente fidelidade sobre a
nossa gente, motivada, naturalmente, pelo conhecimento de que não são, quase
nunca, os famosos que constroem o mundo, mas sim os anónimos: aqueles cujo nome
raramente ultrapassa o círculo da sua
rua, da família ou dos amigos.
Num tempo em que esquecer parece ser mais
importante que recordar, Henrique Mota relembra, incansável mas gostosamente,
nomes (e alcunhas…) de quem, por vezes quase socialmente invisível, foi sabendo
deixar marcas na única vida que parece realmente existir para além da morte: a
das memórias dos que os evocam. É a escrever que Henrique Mota nos diz que,
afinal, é possível amar a vida sem lhe impor condições.»
[Marcelino Mota, psícólogo clínico]
(Fotografia de autor desconhecido)
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